O povo Apache
O povo indígena norte-americano Apache é frequentemente retratado em filmes e na cultura popular de maneira estereotipada e fantasiosa. A própria palavra "Apache" é uma classificação externa, feita primeiro pelos espanhóis e, depois, pelos americanos.
Adriano Ferrera
9/1/20256 min read


O Povo Apache e sua História no Velho Oeste
O povo indígena norte-americano Apache é frequentemente retratado em filmes e na cultura popular de maneira estereotipada e fantasiosa. A própria palavra "Apache" é uma classificação externa, feita primeiro pelos espanhóis e, depois, pelos americanos. O termo APACHE é de origem castelhana, possivelmente uma referência de um povo vizinho aos Apaches. A palavra provavelmente significa "inimigo", ou pode ser também uma referência aos Navajo, um povo com quem eles compartilham um tronco linguístico, o Atabascano . Seu autônimo ( como eles se chamavam ) não foi registrado, e a violência impediu sua transmissão ao longo das gerações. O termo acabou sendo aplicado a várias tribos que compartilhavam um idioma similar e viviam em um vasto território que incluía o sul dos Estados Unidos e o norte do México, uma região chamada de Apacheria, que inclui povos que não tem ligação com os Apaches.
Atualmente, existem seis grandes grupos de Apache, alguns dos quais conseguiram manter seus nomes e identidades originais.


Modo de Vida e Cultura
Os Apaches eram povos semi-nômades, tendo migrado do noroeste do Canadá há cerca de 600 anos. Eles viviam em grupos relativamente pequenos e em moradias temporárias e desmontáveis, como tendas de couro ou cabanas de madeira e palha, o que deixou poucos vestígios arqueológicos de sua presença.
Sua sobrevivência dependia da caça e da coleta, especialmente de bisões, que serviam de alimento e forneciam material para a confecção de roupas, adornadas com contas e padrões geométricos. A caça era realizada de acordo com rituais e preceitos espirituais, com a obrigação de distribuir o alimento para os que não podiam caçar. A visão espiritual Apache se baseava na crença em forças naturais que, por meio de rituais e cerimônias, poderiam ser canalizadas para o benefício individual ou, se desrespeitadas, ter resultados prejudiciais.
A sociedade Apache era organizada de maneira matrilocal, o que significa que o núcleo familiar era composto pelo pai, mãe, filhos e filhas solteiras, filhas casadas e seus maridos. Quando um filho se casava, ele se mudava para a família de sua esposa. Os grupos eram orientados por um chefe, um homem aclamado por ser um mediador respeitado e eloquente, não necessariamente um grande guerreiro.




O Encontro com Colonos e a Ascensão dos Conflitos
Os Apaches mantinham comércio com outros povos indígenas, trocando peles por produtos como milho e algodão. O mesmo cenário de comércio e alianças se repetiu com a chegada dos espanhóis, que tiveram o primeiro contato escrito com os Apaches em 1541.
No entanto, a relação ficou tensa no final do século XVII, quando os Apaches, pressionados pela migração dos Comanches, se moveram para o sul, enquanto os espanhóis expandiram seus assentamentos para o norte. Os espanhóis realizavam incursões para escravizar indígenas, enquanto os Apaches roubavam gado e cavalos. A chegada do cavalo na América revolucionou o modo de vida dos Apaches, permitindo-lhes realizar deslocamentos maiores e caças e ataques mais rápidos.
As hostilidades se intensificaram no século XVIII, levando os espanhóis a construírem uma linha de 18 fortes na fronteira. A situação só melhorou por cerca de 40 anos, com a adoção de políticas de assimilação por parte dos espanhóis, até a independência do México. O novo governo mexicano não conseguiu manter os fortes ou os incentivos, e as hostilidades recomeçaram.
Um grande massacre ocorrido em 1837, realizado por fazendeiros dos Estados Unidos e mexicanos provocou os Apaches a retaliar e a não querer mais negociar.
Uma prática frequentemente associada aos Apaches, o escalpelamento, não era original deles. Ela foi introduzida pelos colonos europeus, em 1641, e o governo mexicano chegou a oferecer recompensas por escalpos, levando a uma "caça" aos Apaches. Em vingança, os Apaches também passaram a arrancar os escalpos de seus inimigos.
Por 10 anos o clima foi de guerra, onde os Apaches venceram vários conflitos sob a liderança do chefe conhecido como DASODAHAE, ou Mangas Coloradas, que em 1862 foi atraído para uma cilada, torturado e morto sob ordem do General Joseph Rodman West.




As Guerras Apache e a Luta por Sobrevivência
As guerras de independência do México enfraqueceram o país, que foi derrotado pelos Estados Unidos em 1848, resultando na anexação da maior parte das terras habitadas pelos Apaches. Inicialmente, as relações foram de trégua, já que ambos os povos tinham um inimigo em comum: o México. No entanto, a migração constante de fazendeiros e mineradores norte-americanos para suas terras reativou os conflitos.
As Guerras Apache, que duraram cerca de 40 anos, foram um período de intensa resistência. O governo dos Estados Unidos tinha como política confinar os indígenas em reservas, algo não aceito por um povo seminômade como os Apaches. Por isso, muitas operações militares tinham como objetivo recapturar os grupos que haviam saído das reservas para seguir seu modo de vida tradicional. A longa duração dessas guerras e a imagem de seus bravos guerreiros solidificaram o estereótipo do "Apache selvagem" no imaginário popular do Velho Oeste.
A resistência Apache foi liderada por chefes lendários. Mangas Coloradas foi um deles, liderando uma resistência organizada. Cochise se rendeu em 1872. O mais famoso, no entanto, foi Geronimo, que tinha um ódio particular pelos mexicanos, que haviam matado toda sua família. Geronimo foi capturado três vezes, mas sempre conseguia escapar, tornando-se uma lenda. Sua quarta e última rendição, em 1886, marcou o fim das grandes Guerras Apache. Geronimo e seu bando de cerca de 100 pessoas foram cercados por 5 mil soldados americanos, incluindo 500 Apaches que serviam ao exército dos EUA.
Geronimo viveu 23 anos como prisioneiro, tornando-se uma figura de admiração e fama. Ele era exibido em feiras e eventos, aproveitando a oportunidade para arrecadar dinheiro para sua comunidade na reserva. Ele também participou de paradas de posse de presidentes americanos, simbolizando a "conquista do Oeste" e a derrota indígena.
Com o fim das guerras, os sobreviventes Apache sofreram uma assimilação forçada, que incluiu o sequestro de crianças para serem criadas por pessoas brancas. Hoje, existem pouco mais de 100 mil Apaches declarados, que vivem em oito comunidades diferentes.
Apesar da dor e da perda, o legado do povo Apache perdurou. A fama de seus líderes e guerreiros é celebrada em filmes e jogos, e o nome Geronimo se tornou um brado de paraquedistas nos Estados Unidos. O nome da operação que matou Osama Bin Laden, por exemplo, tinha originalmente o nome de Geronimo. O povo Apache, com sua história de resistência e dignidade, continua a ser uma parte fundamental e complexa da história americana.




Grandes Líderes e o Fim da Resistência
O Legado e o Presente
Referências
Livro Enterrem meu coração na curva do rio: A dramática história dos índios norte-americanos, de Dee Brown
Livro Apache Warrior 1860–86, de Robert N. Watt
Capítulos da obra Handbook of North American Indians